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Monday, March 18, 2024

O espectro da direita no Brasil.

Um amigo me enviou um vídeo de uma entrevista que o jornalista William Waack concedeu ao filósofo Luis Felipe Pondé. A entrevista concedida possui o mesmo título desse post.

Durante a conversa​, Pondé e Waack analisam o espectro da direita brasileira. Gostaria de comentar alguns pontos dessa entrevista, que achei muito boa. Segue o vídeo da entrevista abaixo.

A direita brasileira é um recém-nascido. Classifica-lá em termos depreciativos, como William Waack faz, sem especificar as situações, pessoas e fatos que suscitaram tal interpretação, é desonestidade. A direita brasileira tem sim muitos defeitos, e, como dito pelo próprio William Waack, a eleição do Bolsonaro tem ajudado a separar o que é uma direita ancorada em princípios, de grupos difusos antiesquerda. William Waack acerta e erra ao mesmo tempo ao analisar o espectro da direita. Ele julga que os grupos mais próximos do presidente são os mais radicais, ideologizados e violentos, quando na verdade é o extremo oposto.

O grupo mais próximo do presidente, ou seja, o grupo que mais o defende, é exatamente o grupo que está ancorado nos valores conservadores e liberais, que o próprio Waack bem sintetizou, sem deixar de enfatizar que não pertence a esse grupo, principalmente no que concerne ao conservadorismo. E quem é esse grupo mais “próximo” do presidente que o Sr. William Waack tanto despreza? São aqueles formados pelo filósofo Olavo de Carvalho e de seus admiradores mais próximos, que podem ser encontrados em pessoas como Alan dos Santos, do Terça Livre, no influenciador digital Nando Moura, Lilo Vlog, em alguns quadros do Brasil Paralelo, como Lucas Ferrugem, no formador de opinião independente Leandro Ruschel etc. A lista pode ser mais extensa.

Os valores defendidos por essas pessoas, acredito e repito, podem ser sintetizados no que o próprio Waack considera ser os princípios gerais da direita. E ter princípios e defendê-los não tem nada a ver com ser ideologizado. Mas isso não quer dizer que não exista uma “direita” burra, radical e “ideologizada”. Ela existe, porém não configurada em pessoas e grupos identificáveis, como os acima citados.

Muitos dos que hoje se classificam como direita, e aqui eu falo de indivíduos comuns, são apenas pessoas que cansaram da esquerda, e que até passaram a odiá-la. Não tenho dúvida de que esses compõem uma boa parte dos eleitores de Bolsonaro. São eles que comentam nos vídeos do YouTube, que xingam e atacam qualquer um que faça uma crítica ao governo, ou a Bolsonaro. São militantes virtuais apaixonados, esses sim com uma visão mais ideológica da direita, pois acreditam que, por não serem de esquerda, estão automaticamente certos em tudo, e que por isso são os detentores do bem e da salvação do Brasil. São como a militância de esquerda dos tempos de glória do petismo, porém com o sinal trocado. Ninguém é o vilão da própria história. E isso vale tanto para a direita como para a esquerda.

São eles que fazem comentários rasos e superficiais, burros e até criminosos. E não os que o Sr. Waack muito discretamente sugere ao generalizar.

Agora quanto ao caráter revolucionário das posições mais à direita no Brasil, tenho que concordar com o Sr. WilliamWack. Vale ressaltar que aqui o “revolucionário” é no sentido de quebrar a (des)ordem imposta pela ideologia socialista.

“…o senso comum no Brasil é patrimonialista, autoritário, é boçal. Confunde valores com nada parecido com o que realmente significa valores, não há apego a princípios, há apego a chavões” William Waack

Porém discordo mais uma vez quando o Sr. Waack classifica a direita como um espelho da esquerda na questão do autoritarismo. A esquerda governou esse país por décadas, criou uma hegemonia cultural e acadêmica, defenestrou da vida pública todos as vozes discordantes. Protagonizou os maiores escândalos políticos da história desse país, roubou milhões dos cofres públicos, corrompeu instituições e empresas públicas e privadas, corrompeu o próprio sistema democrático ao criar o mensalão para impor sua vontade sobre os ombros do brasileiro. De onde o Sr. Waack tirou a ideia de que a direita é o espelho da esquerda no que diz respeito ao autoritarismo?

Já sei, tirou dos comentários do YouTube, Twitter e Facebook. Ele lê um monte de gente revoltada, xingando os políticos e dizendo que a grande mídia é inimiga do povo brasileiro, e acha que isso é suficiente para comparar dois movimentos antagônicos que agem de modo totalmente diferente. Interessante notar que o Sr. Waack ressalta isso após traçar elogios a essa “onda disruptiva” que, segundo ele, “abriu novos horizontes e frentes que antes era impossíveis, além de congregar forças antagônicas que hoje disputam os ouvidos do presidente e o controle da classe política”. Como tudo isso pode ser possível numa direita autoritária, nos moldes petistas, é algo que eu não sei.

As postulações do Sr. Waack a respeito da grande mídia seguem o mesmo padrão de acerto e erro. Acerta quando reconhece o viés de esquerda dos meios de comunicação. Acerta ao dizer que não existe uma agenda por trás de tudo, no sentido de que há um controle sistemático e objetivo. Mas erra ao dizer que esse viés de esquerda é um simples “espírito dos tempos”. Contribui negativamente ao debate ao afirmar que não existe uma mão oculta, como a de George Soros, controlando tudo.

O fato de não haver um George Soros por trás da grande mídia brasileira, não significa que as ações dele mundo a fora sejam todas fantasias de teóricos da conspiração, assim como não significa que não exista uma ação coordenada por parte dos principais meios de comunicação para prejudicar o governo Bolsonaro, como já ficou provado mais de uma vez. William Waack misturou as coisas. Ninguém nunca afirmou que Soros controlava a mídia brasileira. Dizer isso é só um jeito de ridicularizar os críticos da imprensa para não precisar responder às suas objeções. Objeções essas não tão diferentes das que o próprio Waack levanta em sua fala, com destaque para o politicamente correto, que na minha opinião está perfeito.

A percepção do Sr. Waack quanto à perda de credibilidade da imprensa também está corretíssima. Quando os jornalistas passaram a impor uma narrativa para forçar a realidade em prol do socialismo, a imprensa perdeu toda a credibilidade. O jornalista não tem que impor “fatos”, mas relatá-los e interpretá-los, e não dar o significado contrário do que os próprios fatos dizem.

Há mais coisas a dizer e comentar sobre essa entrevista, que podem ser ditas em outros artigos, até mesmo para aprofundar mais nos temas. Assistam à entrevista, eu recomendo.