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Sunday, October 13, 2024

A vida cristã, um dom de Deus

Pelo batismo o cristão está chamado à santidade e ao apostolado. A igreja necessita desse empenho apostólico dos leigos para levar a cabo a nova evangelização: temos de nos preparar para servir a essa chamada e cristianizar a sociedade.

Poucas pessoas hoje refletem a cerca do batismo. É sabido pela maioria dos cristãos que o batismo nos limpa da culpa do pecado original, mas poucas pessoas se atentam ao fato de que pelo batismo também nos tornamos filhos de Deus, e como filhos de Deus, também possuímos um chamado, uma missão a realizar na terra, assim como o Filho unigênito, Nosso Senhor Jesus Cristo, também teve. Como filhos de Deus somos chamados a divulgar a boa nova de Jesus Cristo. Acreditava-se por muito tempo que esse era um dever de sacerdotes e religiosos, mas os tempos mudaram, e depois do CVII ficou mais evidente a responsabilidade da comunidade leiga na evangelização de toda a sociedade. Somos chamados todos os dias a essa responsabilidade quando nos indignamos com o noticiário, sempre repleto de acontecimentos que vão contra tudo o que Cristo nos ensinou, ou quando nos deparamos com o caráter muitas vezes ateu, ou indiferente de nossos colegas no trabalho ou na universidade. Os exemplos são muitos. Não devemos encarar essas situações com um espírito de revolta ou com um espírito fatalista, mas com senso de responsabilidade. O batismo nos capacita a exercer essa função evangelizadora junto com os demais sacramentos e a devida formação doutrinal.

Porém aceitar esse chamado de ser um autêntico cristão no meio do mundo, com coragem e com naturalidade, sem poses ou respeitos humanos, pode não ser tão fácil como nossa soberba e vaidade muitas vezes sugere. Veja o exemplo do jovem rico, relatado em Mt 19, 16–20. O jovem rico se apresenta todo empolgado a Cristo, mas quando é chamado a uma entrega mais profunda, que custa e exige mortificação pessoal, o mesmo recua, triste. O que podemos aprender dessa passagem do evangelho é que podemos fazer muito pouco, ou até mesmo nada por nossa própria conta. O chamado para exercer nosso batismo é um dom de Deus, assim como a capacidade de aceitar esse chamado. Para que essa entrega seja possível todos os dias, é necessário pedirmos a Deus todos os dias a capacidade de nos entregarmos à sua vontade, que se revela no dever diário de cada um de nós. É preciso, como diria São Josemaria Escrivá, buscar a Cristo, encontrar a Cristo… amar a Cristo! Para que isso se realize temos que O encontrar na oração, nos sacramentos, na piedade cristã.

Essa busca por Cristo, se for autêntica, nos levará a assumir mais responsabilidades na nossa vida, e com essas responsabilidades, muitas vitórias e também muitas quedas. Essas quedas não devem nos desanimar, são necessárias para amadurecermos o caráter, crescermos em humildade e confiança em Deus, recomeçando sempre que necessário, com esperança e espírito de serviço. Pois a vida cristã é um começar e um recomeçar…

O batismo e o chamado ao apostolado, como dons de Deus, são graças inestimáveis. Acredito que somente deve ser possível compreender esses dons quando se tem um alto grau de santidade e união com Deus. E talvez nem isso seja o suficiente para compreendermos o que Deus nos dá. Mas se vivido bem, com fé e humildade os frutos desse apostolado florescerão. Um exemplo recente é o da numerária Guadalupe Ortiz que será beatificada em breve. Ela só pode aceitar seu chamado ao Opus Dei porque antes já havia aceitado o seu chamado do batismo. É assim com todos os santos.

E para que não desanimemos diante das dificuldades e das tentações da vaidade e da soberba, que podem nos insinuar que o exercício desse apostolado leigo é algo sem valor, olhemos novamente para o exemplo de Guadalupe. Uma leiga, trabalhadora, química de formação, que exerceu seu apostolado leigo, sem feitos extraordinários, mas tudo feito extraordinariamente bem, sem perfeccionismo, mas perfeito no seu amor e na sua entrega a Deus. Tudo começou compreendendo e vivendo bem o chamado do batismo.

Por isso temos que ser muito gratos a Deus por esse dom que nos torna seus filhos em Jesus Cristo. Vale a pena meditar nesse tema na oração e oferecer ações de graças a Deus por esse dom. À medida que nos tornamos mais conscientes e gratos pelo batismo também nos tornaremos mais responsáveis, e assim corresponderemos mais e melhor às graças que Deus nos concede.