Por Lucas Nicodem.
Nos meus tempos de ginásio e segundo grau era normal se ouvir dos professores, entre os alunos e até mesmo na sociedade, naquela altura com o imaginário todo moldado pelos estereótipos midiáticos, a descrição de um Estados Unidos draconiano, cujo povo supostamente teria preocupação tão somente com o próprio umbigo e com o que girava em torno dele; um povo, em suma, dinheirista, egoísta, individualista, fechado e egocêntrico. Como perdi, de um tempo para cá, de certa maneira, o contato com os meios “escolar” e “acadêmico” brasileiro, não posso afirmar peremptoriamente em que pé se encontra a concepção destas pessoas acerca dos Estados Unidos, mas não seria injusto imaginar que a coisa continua da mesmíssima forma como antes ou até mais agravada.
A tese, entretanto, é totalmente desmascarada e completamente desmoralizada por alguns estudos feitos, sobretudo nos anos de 2010 e 2013, que visavam medir o nível de generosidade dos povos de cada país. Os estudos de 2010 e 2013 apontam os Estados Unidos em quinto lugar em ambos os estudos e o Brasil, respectivamente, em septuagésimo sexto lugar e octogésimo terceiro lugar.
Nos Estados Unidos é comum se ver em igrejas protestantes, clubes de amigos, organizações de bairro, principalmente em cidadezinhas pacatas do interior, pessoas trabalhando em prol de angariar doações, seja em dinheiro ou em bens, a fim de campanhas de filantropia pelo mundo, inclusive para meninos de rua do Brasil. Isso mesmo, os rednecks “racistas fundamentalistas ultra capitalistas da Ku Klux Klan” estão entre as pessoas mais generosas do mundo e as que mais ajudam as “alminhas caridosas cristianíssimas” do octogésimo terceiro colocado Brasil.
De onde diabos, ora, vem então a indignação moral do brasileiro com a corrupção, motivo pelo qual o país ficou mundialmente famoso? Uma possível resposta: não seria imprudente dizer que tal indignação moral advém imediatamente da inveja. O brasileiro vê o político corrupto desviando bilhões em dinheiro para si mesmo e seus patrícios, e fica indignado não porque está sendo roubado, mas porque não teve a doce oportunidade de estar participando da mamata. Então cobre-se com um véu de indignação moral e o utiliza como porrete para bater nos políticos corruptos.